Prelúdio a uma psicanálise do futuro: Freud e Nietzsche
O livro “Prelúdio a uma psicanálise do futuro: Freud e Nietzsche”, do Psicanalista Deivy Frajman, encontra-se à venda na FF Barra.
A Editora Verve convida para o lançamento do livro “Prelúdio a uma psicanálise do futuro: Freud e Nietzsche”. Dia 07 de agosto às 18h, no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), Centro, Rio de Janeiro. Leia em primeira mão os textos de Peter Pál Pelbart e Chaim S. Katz para a orelha e o prefácio do livro, respectivamente.
A apresentação do livro conta ainda com texto do filósofo e dramaturgo Dr. Carlos Henrique Escobar.
Palestra do autor, 29 de julho às 20h30, na FF Barra.
Nietzsche foi um terremoto, ou um sismógrafo? Ele captou um deslocamento tectônico já em curso em nossa cultura, sendo o primeiro a enunciá-lo, ou ele próprio o provocou? De todo modo, o filósofo não blefava quando previu que seu nome estaria ligado a uma crise “como jamais houve sobre a terra”. É preciso constatar: não há domínio que não tenha sido trespassado pela força desse abalo.
Ora, como poderiam aqueles que cuidam dos afetos ficar alheios às questões de Nietzsche? Afinal, ninguém foi tão longe na análise do ressentimento, da reatividade, da culpa, da interiorização – em suma, da hominização. Com isso, obrigou cada prática e disciplina, “humana” e “inumana”, a revisitar seus princípios e postulados, inclusive a Psicanálise. É nessa fecunda linhagem que entram as perguntas deste livro, e a aventura a que nos convida Deivy Frajman.
Peter Pál Pelbart
Nietzsche buscou a emergência do “estado de coisas”. Nenhuma coisa elevada -exemplifique-se com o Bem, O Belo, O Justo postulados pelo grande Platão- se separa das chamadas coisas baixas. Platão criticava o tirano Dionísio, de quem foi preceptor, por se expressar com categorias filosóficas alheias e dizer que seriam dele próprio. Mas Platão procurava as essências definidas e sua origem e não se ocupou de sua complexidade, o que obriga a valoração de tudo que o constitui e integra. Pois teria se dado conta, enquanto filósofo, que a vida se expande e, para isto, as coisas baixas, as baixas atitudes e marginais, deviam ser escondidas, camufladas, recalcadas digo eu. E um tirano quer aparentar também ser filósofo. Os males dos indivíduos devem se transformar em bens da Filosofia.
Nietzsche mostrou, vigorosamente, que sendo a vida expansiva, ela se espalha, se esparrama por todos os lados. Se no Ocidente aprendemos e produzimos na direção de uma finalidade marcada, tal ou tais processos produzem uma consciência unitária, que experimenta reduzir individualidades a um “seu” estado subjetivo único. Verdade, belo, justo se acumulam e se pensam entre si, para produzir um sujeito moralmente único e reproduzido de acordo com um tal modelo valorizado.
Portanto, para Nietzsche se tratou de mostrar que e como o que conhecemos sob o significante “consciência” é uma montagem, que experimentava (e continua e seguirá ainda) montar as vidas válidas em sistemas unitários e produtores do que é qualificado para expressar o sujeito-verdade. Se o pensamento se produziu também desde seus mais baixos instintos, como deixar de incluí-los (tais baixezas) para mostrar uma unidade e unicidade no seu fazer-se verdade? Pois as facetas baixas são, não apenas antissociais, mas longe do equilíbrio e, portanto, de classificações ideais. Ideias são limpas (“o conceito de cão não ladra”) e não sabem acolher maldades e excrementos.
Para não deixar de falar do nosso herói, o que conhecemos na teoria nietzschiana do amor, tão intensamente marcado pela bela Lou Andreas-Salomé? Ninguém escapa de evitar a multiplicidade… e, afinal, como ensinou o sofista, “o belo é uma bela mulher”.
Isto leva a que “todos” fabriquem, reativamente, um mundo onde exista uma finalidade definida. E esta, de acordo com vários níveis de definição, se sobreporá à realidade. O desejo de permanecer, de ser eterno e imortal, de ter uma alma que escape e permaneça por diferença aos corpos, se impõe. E constituirão um novo e outro mundo, onde o “estado de coisas” será perfeito e acabado. Se sofremos aqui, no outro mundo nos daremos bem, cercados por (pelo menos) 70 huris virgens e seus ideais de belo e bom. Mas, quem cercará as virgens? Seus camelos?
Tal é o que se chama de pensar reativo. E por diferença a isto, Nietzsche pensou a vontade do poder. Tal Wille, vontade, seria um grupo de forças, desde as newtonianas até as planckianas, que resultam multiplamente em práxis diferenciadas. Como ensinava o velho Heráclito, a luta é o pai de todas as coisas, máxima ou mínima que Nietzsche elaborou de modo severo.
Mas isto e muitíssimo mais, só se saberá lendo e pensando este escrito de Deivy Frajman.
Chaim Samuel Katz
Deivy Frajman é psicanalista, doutor em psicologia clínica pela PUC de São Paulo, professor na Formação Freudiana do Rio de Janeiro e pós-doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana na UERJ.