Alexandre Costa, Deivy Frajman e Aluisio Pereira de Menezes discorrem sobre “Psicanálise e Política”.
Os psicanalistas foram convidados a escrever sobre o tema por conta do evento “Psicanálise e Política – Senso e contra-senso da revolta”.
Em seu trabalho de 1938 sobre a pratica psicanalítica Freud conclui que “o resultado final da luta que empreendemos depende de relações quantitativas, do montante de energia que podemos mobilizar no paciente a nosso favor em comparação com a soma das energias dos poderes que atuam contra nós”. E acrescenta: “Também aqui Deus está do lado dos batalhões mais fortes – certamente não conseguimos vencer sempre, mas pelo menos podemos reconhecer na maioria dos casos por que não vencemos”. Neste trabalho, como em toda sua obra, Freud reitera a dimensão da revolta em psicanálise. Ela é a combustão para os sentidos que advém transferencialmente, afetivamente e traumaticamente. É o objeto que atiça e provoca os psicanalistas. E o que os leva a produzir psicanálise.
Alexandre dos Santos Costa
(Psicanalista, Membro Titular da Formação Freudiana)
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Do gozo e do comando. Sobre o controle da marcha.
Nota sobre o fazer psicanálise e sobre o fazer política.
Os psicanalistas acabaram por ter de haver-se com o sentido das manifestações do controle da marcha da sociedade e de suas culturas. Para além dos saberes elaborados e que continuam a ser, a ação do fazer psicanálise interfere no curso de situações. Qual a real aproximação da intervenção do ato político, do fazer política? Que ato político tem a vertente de interferir? Ou o ato político seria a manutenção da continuidade do controle da marcha? E o fazer psicanálise é só fidelidade à obra de si mesmo?
Dr. Aluisio Pereira de Menezes
(Psicanalista, professor universitário)
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Nietzsche afirma: “Torna-te quem tu és (Macht Sie,wer Sie sind)”. Não é esta a tarefa da Psicanálise?
Mas como se tornar aquilo que somos sem a revolta ou uma insubmissão em uma sociedade do controle?
O psicanalista precisa com urgência também se tornar um “médico da civilização” e para isso é urgente que saiba que quando o humano sofre e bate à porta, ele traz com ele não só a si, mas uma cultura e uma sociedade perversa que o faz sofrer e enlouquecer. Se Freud “sacudiu o sono do mundo”, o que a Psicanálise na atualidade quer? Voltar a dormir? Esperar as drogas e as hóstias farmacológicas?
O filósofo italiano Giorgio Agamben (1942- ) diz que nossa alegria e nossa dor é pelo mundo ser assim e não de outra forma como queríamos, Isso é o Irreparável, mas há o Fora (dehors de Foucault e Blanchot ) Tal Fora não está para além do mundo.O Fora, seja o inconsciente ou pensamento é uma porta , o limiar estreito entre a potência de ser ou a impotência do sintoma.
É um mundo que entre no consultório e é preciso saber ver, ouvir este mundo que está em cada um que sofre. Em cada um de nós. É disso que se trata ou então continuar a tagarelice mundana da repetição do mesmo.
A Psicanálise é a revolta e afirmação da diferença. E uma tarefa explosiva que põe em risco tudo, ou voltar para a adaptação: a falta, a Lei e os conceitos das velhas tábuas.
É disso sempre que se trata: o futuro, e só o levante permitirá tal feito. Ainda que deitado no divã.
Estamos em guerra, como Foucault já nos advertia mesmo que a aparência da paz bovina nos iluda. A guerra aparece também no consultório com o sofrimento insuportável do humano. Aquela “Psicanálise” que insiste em se manter a parte da civilização e tudo traduzir na individuação do si-mesmo está numa errância perpétua e longa demais.
Esperemos que alguns psicanalistas consigam não mais fazerem solução de compromisso como a neurose faz com o paciente, ou vice-versa.
Dr. Deivy Frajman
(Psicanalista, Doutor em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Estudos da Subjetividade da PUC de São Paulo, Pós-Doutorando e professor da disciplina “Tópicos Especiais em Nietzsche e Foucault”, no Departamento de Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH) da UERJ)
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Saiba mais sobre o evento “Psicanálise e Política – Senso e contra-senso da revolta”.