De que Inconsciente se trata na Psicanálise? – por Carlos Mário Alvarez
“… o Inconsciente de que trata a Psicanálise não é facilmente designável, não é apreensível e não representa as vontades manifestas ou ocultas de um ser.”
Artigo do Psicanalista Carlos Mário Alvarez
Freud descobriu que os sonhos eram uma tentativa de realização de desejos Inconscientes. Fantasias e fragmentos de idéias que só poderiam se manifestar quando a censura fosse repousar junto com o corpo. Ou seja, que os sonhos seriam o momento onde muito daquilo sobre o que não se poderia saber em vigília apareceria de forma distorcida, portanto, transformada, nas cenas pictóricas oníricas.
Lacan, assim como Freud, formulou também várias hipóteses sobre o Inconsciente. Muitas destas hipóteses eram afirmadas na forma de frases ou axiomas contundentes, às vezes enigmáticos, seguindo à própria forma de manifestação do Inconsciente. Numa destas formulações, Lacan disse que “O Desejo (Incosnciente) é sempre Desejo do Outro”. Ou seja, que aquilo que alguém pode formular como Desejo não tem originalidade a partir do próprio indivíduo mas entra em uma cadeia de elementos que seguem, se acoplam, imitam, repetem, formas de desejar que estão em Outro lugar. Mas em que Outro lugar? Na voz tenra materna da mãe, no “não do Pai”, no olhar do amado, no tom de voz da babá, nas ordens da publicidade, nas bobagens ditas pelas “celebridades”…
Enfim, o Inconsciente de que trata a Psicanálise não é facilmente designável, não é apreensível e não representa as vontades manifestas ou ocultas de um ser. Ou seja, trata-se de um dispositivo que transforma afetos e representações (para utilizarmos a linguagem freudiana) em formas muitas vezes esquisitas, não facilmente explicáveis e, em geral, alienadas e alienantes. Não pertence a ninguém mas circula por aí, como poeira no vento.
Por isso, para que uma Psicanálise aconteça, é preciso que ela seja menos uma conversa entre dois para ser um “entra e sai” de idéias que se reorganizarão a partir de escolhas feitas sob novos prismas.
A Psicanálise precisa permitir que as falas se desdobrem, se redobrem e se desobriguem, assim, a significar o que se supõe que elas significam. O inconsciente será melhor tratado quando o analisando perder o fio da meada daquilo que diz (sintoma) e encontre e se afine com a errância daquilo que teme (o horror da castração, da finitude) .
Uma Psicanálise assim, toma o Desejo Inconsciente como condição e não como mal a ser debelado.
Carlos Mario Alvarez é Psicanalista e Membro Fundador da Formação Freudiana
carlosmario@terra.com.br Atende em consultório no Rio de janeiro – Leblon
Canal do You Tube : http://www.youtube.com/watch?v=B-tKPqDfCvo
Curso “Introdução à obra de Melanie Klein” – início, 17 de março de 2014, na Formação Freudiana – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.